P de Portugal

Moro num país que, quando falado lá fora, de imediato ouço "ohh Luís Figo" ou "Portugal?! Cristiano Ronaldo". Nasci num país cheio de história e estórias. Uma história tão velha como são as grandes e verdadeiras histórias e estórias piores do aquelas da carochinha. O país que identifica a minha nacionalidade, já foi de reis e rainhas, num tempo em que pão era rosas e as árvores que se plantavam, quando adultas, serviam para fazer naus. As mesmas naus, qual Catrineta, levaram menos história do que aquela que trouxeram para contar. A história daquilo que existe para lá da linha do horizonte, da noite, do dia, do sol e das tempestades. O país do meu Portugal, vive agarrado ao passado, não esquece Salazar, nem as vezes que se parava na Venda da Rapariga ou em Canal Caveira, num tempo em que a palavra auto-estrada soava a estrangeirismo. A maioria das gentes que habitam neste Portugal, gostam mais de Angola do que da rua onde moram actualmente. Diz que lá é que tudo era bom e bonito. Neste Portugal, que agora já vê casar mulheres com mulheres e homens com homens, a mulher que pede o divórcio ao marido, vai a tribunal popular. O fado já tem versão remix e no futebol vimos jogadores que não nasceram portugueses a vestirem a camisola da selecção. A vuvuzela está quase a ser admitida como o novo instrumento musical de qualquer orquestra ou fanfarra. Os segredos de Fátima, se fosse hoje, certamente não seriam só três. Ou então não existiam, com tanta escuta que para aí anda. Contudo, quando se fala em milagres nos dias de hoje, ocorre-me dizer que se Nossa Senhora for portuguesa, também ela deve estar a espera de um milagre. Ainda assim, e por mais vezes que, às vezes, pense como eu seria se tivesse nascido noutro país, não sei o que é ser outra coisa, a não ser portuguesa.