15 junho 2010

Aquilo que o vento não leva


Da noite passada a conviver com o Senhor António, ficou a dor de pernas, provocada pelos quilómetros que a cidade me fez percorrer. Quilómetros de alegria, de brindes e de gargalhadas. Quilómetros que fizeram desaparecer a saudade de momentos de outrora, com uma amiga, há dez anos atrás. Quilómetros partilhados com outra amiga, que me acompanha nesta andança há quatro anos. A conversa com o Senhor António, fez soltar palavras ao jeito de "desejo de consumo", regadas com sangria que hoje digo, com certeza, que era daquela de pacote. Mas pouco importou. O Senhor António fez-me ouvir uma voz estranha, ao meu lado, dizer-me: "Tás a tirar fotografias comigo, mas não me aceitas no facebook!" Fez-me conhecer um "noivo" espanhol e no minuto seguinte fugir dele. E fez-me bailar, com aquele que, segundo os gestos, sorrisos e olhares de quem me acompanhou na folia, poderia muito bem ser "o pai da criança". Da noite passada a conviver com o Senhor António, ficou a conversa prometida com ele. Cara a cara. Sem vento e sem chuva a atrapalhar. Com um luar que não se via, a conversa foi iluminada pela luz de uma vela branca, fina, que ficou bem colada, naquele chão de paparelos. E não foi amor que lhe pedi... Ficou o cheiro a manjerico, que ainda está nas minhas mãos. E nos meus ouvidos, continua uma voz a cantar... "o senhor antónio está no aaarrr...."

Bica abaixo, Bica acima, a noite fez-se dia. E como é linda a Lisboa a amanhecer. À tarde, a tarde foi de sol. O vento não leva o som que fez nos meus ouvidos, quando me deixei passear junto ao rio. O mesmo rio que testemunhou conversas. Daquelas conversas que nos fazem revelar sentimentos que, se calhar, nem eu percebia que sentia.

O vento não leva aquilo que, todos os anos, me acontece por altura dos meu aniversário. As surpresas. E... Viva as surpresas! Viva as surpresas boas e as surpresas más, e aquilo que esta antítese me faz/fez perceber: O valor das pessoas. Nós e os outros. Um valor que é tanto e tão grande, como, de repente, nos faz perceber que, afinal, somos pequenos aos olhos de quem achávamos ser grandes e somos bem maiores aos olhos de quem pensávamos que ter menos de metade da nossa altura. No meio disto, é difícil não esconder ou encobrir o sentimento que fica, a mágoa e a dor no estômago, por uma descoberta inesperada. O sentirmos que, afinal, não somos vistos da mesma forma com que olhamos quem está à nossa frente e com quem fazemos questão de estar próximos, nos momentos bons e maus. E estas coisas magoam. Magoa perceber que, afinal, há dias que parecem ser só especiais aos nossos olhos e assinalados de forma empírica por aqueles que nos são próximos. E questionamos que, se calhar, poderemos não ser assim tão importantes...

Fechou-se um ciclo em mim. Abriu-se outros, de imediato. E nesta nova caminhada, mais uma vez, aquilo que o vento nunca leva, são as memórias guardadas em mim.

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