Não sei quando se fez luz. Não me lembro do momento da aparição nem de quando escrevi o meu nome pela primeira vez. Não me lembro da descoberta da caneta, do lápis e do papel. Não me lembro se era com seriedade que encarava o momento da gravação das conversas, para depois as transcrever pela minha própria mão e interpretá-las à minha maneira. Escutas não era, de certeza.
Mas, lembro-me de todos os dias em que mostrei a certeza daquilo que queria ser e do quanto essa certeza me dizia que ia tudo acontecer como eu queria.
Não me lembro do dia em que comecei a conseguir levantar-me à hora a que estava habituada a deitar-me. Mas, lembro-me do primeiro dia que pisei o primeiro degrau do primeiro edíficio. O primeiro dia que fui ao segundo edifício, ao terceiro e ao quarto. Lembro-me do dia que fez um ano que entrei pela primeira vez no quarto edifício e lembro-me de ter pensado como passou a correr. E o pensar que passou a correr foi acompanhado por uma sensação minha, única, de good vibe e de que tudo de bom estaria ainda para vir. A sensação boa do que estaria para vir, em comunhão com tudo de bom que já tinha acontecido.
Não me lembro do dia em que passei a ser responsável por este compromisso. Tudo porque nunca fui irresponsável com ele. Como em todos os outros. Não falhei em nenhum. Falhei em alguns. E se falhas foram essas, que venham mais falhas dessas.
Lembro-me sim do dia em que a hora chegou e eu pedi só mais uma. E outra. E mais outra. Até porque não me custava nada. E continua sem custar.
Lembro-me do dia em que o "é preciso isto e aquilo" passou a ser ouvido por mim como "preciso que faças isto e aquilo".
Tal como na escolinha, o levantar do dedo para tudo sempre foi imperativo, agora também continua a ser. Nunca para mostrar que sei mais, que sou melhor ou para me mostrar. Não! Nunca! Mas sim por uma questão de iniciativa e disponibilidade. Sim ao saber fazer e sim ao querer fazer.
A responsabilidade assumida com este compromisso cresceu e subiu patamares sem nunca ultrapassar barreiras. Afinal, foi e é uma vontade própria. O compromisso assumido com este compromisso ultrapassa já outro tipo de compromissos. É prioritário face a outros compromissos que também me poderão elevar o ego, fazer com que durma melhor e acorde mais feliz. Este meu compromisso faz-me abdicar de todo um mundo de coisas. Da minha família, das minhas minhas amigas, de idas à cidade que me viu crescer, que me formou com uma capa negra sobre as costas e que tanto tem chamado por mim. Faz-me abdicar de passeios à beira-mar e até de um pôr-do-sol numa falésia, de um salto de pára-quedas ou de umas aulas de surf ao fim-de-semana. A satisfação que este compromisso me dá, faz-me faz-me encará-lo com um sorriso nos lábios quando me deito para logo a seguir me levantar. Quanto tenho de acordar cedo num dia de férias para fazer o que está pendente.
A satisfação deste compromisso faz com que nunca me queixe e com que encare tudo e mais alguma coisa com vontade para ir ainda mais além. Porque, afinal, é com este compromisso que vivo todos os dias. Certo ou errado, é este compromisso o mais importante da minha vida neste momento. É este compromisso a única coisa que eu realmente tenho e foi a este compromisso que me agarrei nos meus piores dias. E mesmo nos dias bons, nunca tive vontade de o deixar cinco minutos mais cedo. A vontade dos cinco minutos mais tarde prevaleceu. Sempre.
Mas na hora da verdade ou consequência. A hora que teima e que chega sempre. Nessa hora, começo a perceber que a consequência prevalece sempre perante a verdade. Porque a verdade raramente é consequência. E a consequência tráz consigo um tom depreciativo. Que assusta quando ouvida. Que assusta muito quando lida. Mesmo em jeito de ameaça abstracta e duvidosa.
1 comentário:
Se uma verdade não prevalece, prevalece-lhe talvez uma meta-verdade! :)
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