12 outubro 2009

À minha moda

De modas, vamos bem e recomenda-se. Senhores do lápis, do papel e do desenho. Da linha, da agulha e do dedal, podem continuar.
Nos quatros dias em que só de moda se falou, só moda se respirou e até com moda se sonhou, não passou e não passa de moda o imperativo da minha moda. A moda que me vê passar moda que nos vê passar e nunca a moda que passa por mim.
Na minha moda há tules e flores. Há riscas e bolas. Rosa berrante e amarelo pálido, que para alguma coisa há-de servir. Vestidos, despidos, mini-saias e saias compridas. Saltos altos. Agulha, cunha, compensados e até uns Letizios, assim, só por acaso. Dádos, comprados ou emprestados. Sabrinas, chinelinho e havaianas, sempre que for preciso e me apetecer. Na minha moda, agradeço ao champôo, ao amaciador, ao creme e às gotas para as pontas, que a minha moda coloca logo a seguir ao secador. A minha moda nunca se irá arrepender daquilo que gastou em maquilhagem, ali num corner do El Cort Inglês. Nem de ter comprado umas botas e uns sapatos, na porta seguinte aquela onde comprou umas sandálias. Afinal, a minha moda está sempre a precisar. Talvez por isto, a minha moda sabe sempre onde deixou aquela bijuteria que, num certo dia, guardou dentro de uma bolsa e colocou lá no fundo de uma gaveta, como que a querer esquecer que algum dia aquilo tenha sido moda.
O perfume da moda, na minha moda é o perfume que cheira a mim.
Na minha moda mando eu e a minha vontade. Na minha moda não há pré-estabelecidos nem pré-combinados. Na minha moda as coisas acontecem. Com a minha moda, as quatro da tarde são tão iguais ao meio-dia, como as dez da noite podem ser cinco ou seis da manhã. Na minha moda é importante que a SIC Mulher passe o Querido, Mudei a Casa às cinco da manhã, quando realmente são cinco da manhã
Com a minha moda as histórias repetem-se. Sejam elas boas ou más. Na minha moda, se o que se repete é mau, não denuncia burrice. Simplesmente quer dizer que, por vezes, é necessário enfiar o pé na poça mais do que uma vez. Apenas e só, porque na moda as coisas não nos servem logo à primeira. E, da mesma maneira que é preciso conseguir respirar fundo e encolher a barriga para apertar um botão, também é preciso ter noção do quão importante é que o botão se feche e não fique com folga.
Na minha moda, a música tem a mesma importância que tem o silêncio. E é tão importante uma noite que começa com um jantar de sábado e que acaba com o pequeno-almoço de domingo, como uma noite de sábado que começa ao final da tarde no sofá e termina ao início da noite, debaixo do edredon com um livro de trezentas páginas na mão. Sim, porque a minha moda gosta tanto de ler como de fazer brindes, tirar fotografias a sorrir e a fazer caretas ou colocar máscara nas pestanas para que elas pareçam mais volumosas. A minha moda só não gasta tanto dinheiro na livraria, como gasta no corner da maquilhagem, porque tem livros de borla.
Na minha moda é possível regressar a casa descalça, depois de um dia de trabalho com uns sapatos apertados nos pés, como é tão possível sair da discoteca da moda, tirar o sapato da moda, caminhar para o carro descalça e, pelo caminho ainda "descansar" naquilo a que se chama de "circuito de fitness", ali ao lado do Tejo. E é possível rir a bom rir na cara de quem passa, vê e goza só porque não sabe que também é moda fazer isso sem se estar debaixo do domínio de gins e vodkas que, às vezes, também dão o ar de sua graça na moda. Sim, porque a minha moda é natural.
A minha moda, por vezes, quer deitar-se cedo, mas ao regressar a casa e ver que não consegue lugar no estacionamento, a minha moda, pára o carro onde lhe apetece, vai a casar comer Nestum (??!!) e volta para o local de onde veio.
E a minha moda tem coisas realmente na moda, como o facto de estar sempre na dela, indiferente a ataques alheios e do momento. A minha moda não está atenta aquilo que todas estão. A minha moda não quer aquilo que todas querem. E muito menos está receptiva a tudo e a todos. Afinal, tudo, na minha moda é à minha maneira... à minha moda!

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