Caminho numa estrada cujas bermas parecem não ter fundo e onde vejo afundar-se a vida de alguns que caminham a meu lado. Vejo amigos a ficar sem trabalho, pessoas com quem divido o dia-a-dia verem uma vida, a sua vida, ser esquecida em minutos. Os minutos que demoram a comunicar que a partir daquele momento o tudo que poderiam ter sido até então, se resume a um nada dali para a frente. Na minha estrada cruzo-me com semblantes carregados, faces preocupas e, algumas, poucas, aliviadas. Nesta estrada, os sorrisos, as gargalhadas partilhadas e o companheirismo deram lugar ao sentimento de revolta, à fúria. Deram lugar ao nervoso miudinho, à falta de palavras. À falta de palavras, não por não se querer falar, mas porque não se saber o que dizer. Nesta estrada, ficam um pouco mais tranquilos aqueles que como eu ainda podem dizer aquele até amanhã, antes de desligar as luzes e bater a porta. Mas lá no fundo, nesta estrada, todos receamos que chegue o dia em que o até um dia dê lugar ao nosso dia de amanhã.
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