Não há dia que não me questione acerca do futuro do filho pequenino dos meus vizinhos. Preocupa-me esta família. Não há dia que não aconteça uma discussão assustadora dentro daquela casa. É ouvir a mãe, que demonstra tamanha falta de paciência, falar mal e demasiado alto para a criança, um menino que só tem quatro anos; é ouvir todos os dias o marido berrar com a mulher, tratá-la mal, chamar-lhe os piores nomes e mais sei lá o quê que as paredes não deixam ver. Ainda hoje a deixou pendurada à porta de casa, demorou o tempo que quis para lhe abrir a porta e lá de dentro atirava com ironias, como se fosse um crime ir ao supermercado e não levar a chave de casa. E o miúdo a assistir a tudo. Quando finalmente a mulher entra em casa, o filho repete vezes sem conta "mãe, mãe, mãe... mãe", mas como resposta ao chamamento leva com um "Ai, G. Agora não, não me chateies...", em modo alto e bom som.
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