13 abril 2010

Doze dias


Entre por essa porta agora, diga que não vai embora... você tem doze dias, pra mudar a sua vida.
Em doze dias dormi, dormi, dormi. Dormi de noite e dormi de dia. Em doze dias ri muito e chorei demais. Depois, voltei a rir-me perdidamente com a moda das álle stares e das calças coladas ao pacote. Alimentei-me de ar puro, contei várias vezes até dez e respirei como há muito não respirava. Suspirei como nunca tinha suspirado. Mandei embora as energias más e liguei o botão que só permite guardar o que é bom de guardar.
Em doze dias matei saudades que não sabia que sentia, ouvi aquilo que já sabia e revelaram-me aquilo que eu nunca quis saber, ver e ouvir. Bebi as caipirinhas que já não bebia há mais de um ano. Em doze dias voltei a estudar e fui vendedora. Apresentadora. Música e cantora. Escolhi flores, plantei-as e reguei-as. Em doze dias cresceram as saudades de uma amiga. E de outra. E de outra. Em doze dias vi quem já não via há muito tempo. E não senti nada. Vi pessoas que realmente sabem dançar ballet, como eu sempre desejei saber dançar. Herdei relíquias de família, que agora habitam nas gavetas da minha cómoda.
Nos doze dias que ficaram para trás, 36 pessoas morreram de AVC em Portugal, eu beijei o senhor, não comi amêndoas nem tão pouco pareci surpresa com qualquer brinde dentro de um ovo. Vi as casas cujos projectos foram assinados pelo nosso maior e assisti à eleição de um novo líder político. Comprei umas sandálias e uma camisola, que me vai evidenciar os ombros, quandos eles estiverem bronzeados.
Nos últimos doze dias, comi gelado de baunilha, morango, limão e caramelo. Bebi sumo de laranja natural. Olhei para a minha serra cheia de neve e passeei na rua sem casaco. No espaço de doze dias o meu cabelo cresceu, mas manicure manteve-se perfeita. Durante doze dias não recebi mensagens nem visitas a meio da noite, não tive bolinhos ao pequeno-almoço.
Ao fim de doze dias, o meu olhar está mais brilhante. Mas o meu sorriso continua amarelo e a minha porta fechada. Ainda assim, em doze dias, percebi e tive a certeza de que a única novela a que realmente eu quero assistir, é aquela que dá à noite, no canal cujo número é o três.
No final destes doze dias, ficou a certeza de que nos próximos doze e em todos os outros que se seguem, enquanto houver estrada, é pra andar...

2 comentários:

Miracle disse...

Bonito e nota-se mt sentimento neste post!

Parabéns e um beijinho

Suspiro do Norte disse...

E eu deixo-te aqui um abraço por cada dia que passou, e outro para todos os dias que virão..