09 dezembro 2010

A mão que (ainda) me embala o berço



Depois de ter lido isto no blog da mãe Lina, dei por mim a pensar na minha infância, na minha adolescência... na minha vida.
Em 27 anos de existência sempre tive tudo de mão beijada. É isto, assim, sem mais nem menos. E digo-o sem vaidade, sem orgulho de quem tem o rei na barriga. Digo isto sem, por sombras, me achar mais e melhor do que alguém. Digo-o com respeito e humildade. E digo-o em forma de agradecimento a quem me criou e fez de mim aquilo que sou hoje.
Eu fui aquela miúda a quem foi dado o carro novo, num dia de Inverno, mês de Dezembro, poucos dias antes do Natal. Mas também fui aquela miúda a quem foi dito “estima-o, porque quem te deu este, dificilmente te dará o próximo”. Continuo a ser a miúda sortuda, que embora passados nove anos a conduzir o mesmo carro, nunca pagou o seguro ou o selo, nunca pagou uns pneus novos, nem tão pouco as revisões ou os arranjos. Até na hora do único acidente que o carro sofreu, tive sorte: era o meu pai quem ia a conduzir.
Continuo a ser a miúda sortuda a quem foi atribuída mesada, nos tempos do liceu, e depois, mais tarde, em versão inflacionada, nos anos da faculdade. Mas também fui aquela miúda a quem foi dito: “aprende a fazer as contas e a gerir o teu orçamento. Se gastares mal, o mal é teu.” E eu geria tudo de forma a conseguir ter sempre gasolina para ir passear para onde me apetecia. Geria de forma a ter jantaradas e idas ao centro comercial, nem que fosse apenas para uma bugiganga.
Fui a miúda que foi passar férias aqui e ali, com amigas, amigas e amigos e com o namorado. Mas também fui a miúda a quem foi dito “vais de férias para onde quiseres, mas para isso tens de ter boas notas.” E eu que era do tipo “vamos indo e vamos vendo”, lá me esforçava nos últimos períodos e nos últimos semestres e lá atingia o meu objectivo.
Com os meus pais sempre foi ao jeito “tudo o que eu te dou, tu me dás a mim”. Não sei se era eu que lhes dava aquilo que eles queriam, para depois, em troca, eles me darem aquilo que eu queria, ou se era o contrário. Sei apenas que foi um sistema que sempre funcionou lá em casa e que ainda hoje vai funcionando. Apesar de ter a minha independência total e de ser ainda mais dona do meu nariz do que alguma vez fui, foi graças a este ensinamento e a estes valores que me foram incutidos que eu sempre fui subindo as minhas escadas, degrau a degrau. Apesar de um dia, num episódio da minha vida, ter sentido que os meus pais me viraram as costas, nunca pus em causa a forma como fui educada. E quero dizer com isto, que até as meninas mais mimadas, mais sortudas, mais princesas e mais tudo nesta vida (e tenho plena noção de que sempre fui conotada assim por tios, primos, e outros membros da família e tantos que mais, que se lixem), essas meninas podem ter tudo de mão beijada e, ao mesmo tempo, ser-lhes dada uma educação séria, real e consciente. Uma educação cheia de valores e de princípios. Uma educação com direito a nãos e a momentos maus, para que os sins e as coisas boas sejam aproveitadas ainda com mais consciência.
E serve isto tudo, e mais aquilo que não foi dito, porque não é para o caso, e ainda com direito a um “apesar de tudo”, eu só tenho é de beijar a mão que tudo me tem dado de mão beijada.

1 comentário:

Lina Santos disse...

É isso mesmo, gaja! :)

Bjs